terça-feira, 11 de setembro de 2007

Elucubrações culturais

De longe avisto várias delas, de perto muitos deles. Estou cercado de lojas e estandes com vendedores ávidos por compradores. No interno aconchego, os livros me abraçam fico perdido com tantos conselhos que os escritos sussurram. Gosto muito de tudo isso.

É um grande local de informação dividido em espaços e estandes, de livros e estantes. Tem de tudo, do novo ao usado, do best-seller ao “ensebado” prontos a serem consumados. Onde tem criança, adolescente e experimentado. Tem de monte a um pedaço, falo dos livros e do cansaço. As professoras que confirmem o fato. Organizar um passeio com 20 a 30 crianças é um trabalho digno de um abraço.

O passeio é cambaleante, as pessoas transitam de maneira incessante. O burburinho é presente, a devida atenção nos livros é ausente, e a cada edição o volume literato é crescente. Busco ali e acolá um livro ou revista que me faça pensar.

Não sei de princípio por onde começar é tanta coisa a folhear, os olhos ficam a bisbilhotar o que os livros tentar falar. Tem pessoa que vem me socorrer digo estou somente a percorrer, eu sei que está querendo vender e percebo meu bolso avisando em me conter, com esperança, o preço ainda há de ceder.

Tenho muita vontade em me entreter, leio aqui, folheio outro ali. Vejo que tem muito o que ler. Logo um me prende a atenção está meio do saguão, ali perto do vão. Fico ali um belo tempão, o vendedor inquieto com a minha divagação, pergunta se preciso de uma ajuda então. Digo que não, sei que é sua obrigação vender para ganhar o pão e vigiar aquele montão. É grande a sua preocupação, ainda mais que um jornal perto do latão avisa que a corrupção escorre pela mão.

Fico triste com a situação em meio a multidão, pessoas sedentas por informação, vejo que esta pequena importunação ocorre amiúde sem qualquer distinção. Deixo aqui as loucuras no porão, compro de pronto já, o livro que em minha mão está, esperançoso com mais informação ajudar este mundão a melhorar. E quero que esta Feira do Livro possa abraçar uma quantidade maior de pessoas querendo estudar.

sábado, 28 de julho de 2007

A sujeira da limpeza

O começo do texto se dá em um local onde poucas pessoas dão atenção à sujeira que cometem mesmo estando em um ambiente que é feito para manter-se limpo, literalmente em duplo sentido. O banheiro público local este, que no Brasil estima-se que 10 milhões de pessoas usem-no, no mínimo, duas vezes por dia. Por questões de higiene, a maioria dos banheiros tem toalha de papel, que mede em média 0,06 metros quadrados.

Em minhas andanças higiênicas que são feitas somente em momentos estritamente necessários (não sou pesquisador catedrático) percebo que cada pessoa utiliza não menos que 4 toalhas de papel para secar as mãos, fazendo ser totalmente supérfluo o onipresente aviso: “Duas toalhas são suficientes para secar as mãos”. Neste pequeno deslize de atenção cada pessoa abusa de 0,12 metros quadrados de papel-toalha a cada ida no banheiro, transformando em grande descaso com o meio ambiente. Para tal afirmação ser verdadeira farei um cálculo. Em trecho acima disse que menos de 10% da população brasileira usa o banheiro público duas vezes por dia. Cada usuário gasta 2 toalhas excedentes para secar as mãos. Tendo uma toalha 0,06 metros quadrados de área. Seriam necessários 12 metros quadrados de papel para 100 pessoas com duas idas diárias.

Fazendo um estudo otimista para a ecologia. Alguns banheiros já trocaram a toalha de papel por secadores elétricos (olha o consumo de energia), outros ainda mantém os toalheiros de tecido e que algumas pessoas vão e voltam sem lavar as mãos, os 10 milhões inicialmente anunciados seriam resumidos a 1 milhão de pessoas por dia no Brasil, que utilizam o banheiro duas vezes com excedentes duas folhas de papel-toalha. Com o cálculo em punho do parágrafo anterior teremos gasto 120.000 metros quadrados de papel por dia em idas e vindas.

Diante do latifúndio de papel, o mais correto e sensato, seja para o diminuir o lixo, seja para manter as árvores nas florestas, seria trocar os óculos da insensibilidade e prestar mais atenção no aviso que diz: “Duas toalhas são suficientes”. No ambiente que nos fornece subsídios à adequada limpeza, a não utilização de duas toalhas transformaria a sujeira da limpeza em pontos positivos ao meio ambiente e a natureza agradece.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Onde foi que eu errei ???

Em uma família a organização de responsabilidades, direitos e deveres é feita de maneira bem definida. As atribuições e responsabilidades vão ganhando forma e escopo com o tempo, mas o nascimento dos filhos é um divisor de águas.

O pai precisa dar o exemplo para que os filhos tenham um horizonte de conduta e que essa possa ser mimetizada. Se o pai for de índole má será bem provável que os filhos o seguirão, já sendo detentor de uma reputação ilibada a sua prole terá grande probabilidade de também a ter. Mas nem sempre essa regra é inexoravelmente presente, porque vai depender também de quanto os pais gratificam os acertos e repreendem os erros de conduta dos filhos.

O governo sendo um pai para os seus cidadãos tem sido, de uns tempos pra cá, bem reticente e ausente na correção dos erros de seus “filhos”. A polícia federal tem apresentado a personalidade de um irmão mais velho: de orientar, de punir, de prender, de chamar a atenção para os descaminhos dos “irmãos”. Vem fazendo papel de alertar o pai para os problemas que as atitudes dos “irmãos” mancham a reputação da família.

Contudo o governo (o pai) totalmente alheio ao desvirtudes dos “filhos” juntamente com os representantes da justiça (a mãe) e acobertados pelos parlamentares (vovôs) fazem diariamente péssimos exemplos de uma família desgovernada.

O irmão mais velho PF bate, grita, prende e avisa o pai. O governo ausente como sempre vive falando que não sabe de nada e pede à mãe para cuidar do caso. A justiça com peninha maternal e com a ajuda dos vovôs parlamentares mandam soltar o coitadinho, filhinho de papai queridinho da mamãe. Ele não fez isto ou aquilo, meu filho não se mistura com essa gentalha.

Já os vizinhos, diga-se países, tentam ajudar dando conselhos, pedindo para ler a cartilha, querem investir, mas ainda se sentem inseguros se deixam seus filhos “estudarem” juntos com filhos desregrados que não tem limites que desconhecem as leis e que sobrevivem da impunidade. Não é a toa que cobram-nos mais transparência, lisura, menos burocracia e corrupção.

Não vai adiantar chorar depois pelo leite derramado, ficar se lamentando que a prole não aprendeu sobre o correto e os bons costumes e nem tampouco tampar os ouvidos para silenciar o eco da frase: “Onde foi que eu errei ???”.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

A paz sob escolta de guerra

A visita do Papa ao Brasil no mês de maio não só lavou e purificou corações e mentes dos fiéis católicos, bem como colocou o Brasil no altar dos santos com a beatificação de Frei Galvão primeiro santo nascido no país. A visita foi um grande espetáculo, seja no tamanho da multidão que compareceu à missa, seja no grande e extensivo aparato militar de proteção digno dos que se fazem em tempos de guerra para um chefe de estado.

Na grande mídia o assunto orbitou reiteradamente na beatificação do santo brasileiro, locais por onde o Papa iria passar e ou ficar, nas vestes, comidas e na cadeira que o santo padre iria vestir, comer e sentar e na proteção que a polícia conjuntamente com o exército iriam proporcionar à população. Nota-se que a mídia divulgava, mesmo em volume baixinho, que a força militar estaria ali mais para proteger a população do que o Papa. Como já dizia o título de um programa televisivo “Acredite se quiser”.

No Campo de Marte a missa transcorreu divinamente tranqüila mas só faltou aparecerem alguns famigerados marcianos pois a presença da pesada artilharia demonstrou que estavam ali mais para uma guerra do que manter a tranqüilidade da missa ainda mais que no local foram avistados alguns tanques de guerra, vários helicópteros, dezenas de centenas de soldados e um sem número de atiradores de elites, tudo isto em prontidão para proteger a indefesa multidão de fiéis.

Neste cenário o que não fica claro é que quando o Dalai Lama, também uma Santidade, vem às nossas terras não carece de nababesca proteção militar.

Mas um assunto que passou longe dos holofotes midiáticos (vide em: O Papa e a CLT) foi o pedido do Vaticano para o Brasil não reconhecer o ofício de padres e sacerdotes como relação trabalhista. Pois se assim o fizer o Brasil iria abrir as comportas de uma enxurrada de processos trabalhistas impetrados pelos sacerdotes contra a Igreja, mas também daria forma a um enorme passivo trabalhista a favor do governo brasileiro em detrimento do episcopado.

E que o Papa venha todos os dias para nos proteger.

sábado, 28 de abril de 2007

A justiça não tarda a falhar

“A justiça tarda, mas não falha” este sim, poderia ser o título, contudo a conjectura atual não me deixa outra escolha. Já se fosse “A justiça não tardará a falhar” pressupõem que nunca falhou e começará em algum tempo futuro que também não é o caso. Por assim dizer fico bem satisfeito com o atual título, pois reflete bem a situação em que vivemos.

A igualdade, objeto da justiça, deveria estar mais presente nos julgamentos. Sinto a falta dela em vários contextos, seja na atuação do Estado que deveria abraçar todos os cidadãos de igual maneira com o seu amplexo de benefícios sociais e benfeitorias públicas, seja na emanação dos vereditos jurídicos onde haveria de julgar todos igualmente. No cerne deste último a falta da igualdade não foi esquecida à toa. O próprio instituto do foro privilegiado já denota que uns são mais iguais que outros. Este benefício ao ser avocado no julgamento põe por terra o objetivo da justiça, pois de início, uma das partes pesa mais na balança.

Parando de teorizar relato a prática deste benefício com apenas um acontecimento recente que demonstram o que foi dito acima. Vale ressaltar que não se trata de ficção, mas sim de história verídica posta na mídia de grande abrangência e circulação.

Na operação brisa matinal, (este deveria ser o nome correto para a operação denominada Hurricane, furacão em inglês) deflagrada pela Polícia Federal (PF) contra a máfia dos bingos e caça-níqueis no Rio de Janeiro, que prendeu diversas pessoas das mais variadas estirpes como bicheiros, servidores públicos a até juízes e desembargadores. Não só neste, mas também em outros o trabalho feito pela PF é de ímpar qualificação e eficiência pois é necessário um grande aparato logístico e tecnológico aliado a uma imensa discrição de seus agentes para desbaratar tal quadrilha, cujos tentáculos chegaram até mesmo a um delegado e agente da própria corporação.

O sentimento de um agente da PF numa situação dessa é de frustrar o coração, pois ao fazer um longo trabalho cansativo e estressante como esse, que até pode prejudicar o relacionamento familiar e saber mais tarde que as pessoas que você ajudou a prender estão soltas por terem foro privilegiado.

Cedo está para julgar se fizeram ou não algo de errado, mas se houve cumplicidade e/ou vínculo (pressupõe que duas ou mais pessoas estão envolvidas), então todas elas juntas devem estar e ficar, sejam presas, sejam soltas.

No desenrolar deste texto a justiça parece que gosta de complicar assim como no próprio português onde o termo “tudo junto” se escreve separado e “separado” se escreve tudo junto.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Perguntas imbecis

O título forte é por causa de indignações perante observações na mídia relativas à perguntas feitas por repórteres, investigadores e tomadores de depoimentos dirigidos para pessoas privadas ou públicas inseridas em situações de grande comoção ou praticantes de delitos.

Começo pelas as de comoção. Na trarei aqui à luz uma história real, mas sim, uma que não aconteceu, contudo a semelhança com outras tantas reais não terá sido mera coincidência.

No dia 10 de tal mês às 19:00 no cruzamento da marginal Polícia Inexistente com a Rua Descaso Público, a técnica bancária Maria do Carmo, 28 estava em seu carro a esperar o sinal abrir. Quando de repente, é abordada por dois meliantes encapuzados. Um ao seu lado e outro pela porta do carona. De arma em punho, o bandido mais próximo gesticula para baixar o vidro. E anuncia o assalto sendo a operação finalizada com a subtração de seu carro e todos os seus pertences. Teve sorte de não ter morrido. Ao chegar na delegacia, abalada emocionalmente com o ocorrido, relatou o fato ao agente de plantão que logo transcreveu o BO. Ao sair da delegacia havia um carro de reportagem da TV local sedento por reportagens do tipo, que logo montou o circo para colher mais uma matéria de cunho policial começando com a primorosa pergunta “O que a senhora sentiu ao ser assaltada ?” Fico a pensar como reagiria o repórter e sua audiência se a resposta fosse: “Fiquei bem alegre ao ver a arma apontada para minha cara dizendo para entregar o meu carro, pois estava precisando de fortes emoções na vida sem graça que levo.”

Os repórteres acima para chegarem a trabalhar em tal profissão estudaram um certo tempo em faculdades e especializaram-se em outras tantas, mas não percebem a imbecilidade das perguntas que fazem. O que poderia melhorar a situação seria a inserção de matéria na ementa dos cursos que trabalhasse com a avaliação de ambiente, com critérios éticos e aplicação do bom senso, ou seja, popularmente falando, utilização do desconfiômetro.

Já em outro local não muito distante dali, mais precisamente na pizzaria do Congresso. Transcorre uma CPI. Palco montado, atores e “a toas” em posição, dezenas de repórteres com suas câmeras e gravadores em prontidão, sala-auditório abarrotado exalando uma mistura de cansaço com frustração, pois lá este disco não vira não, em meio a cochichos mil o alto-falante quebra o decoro pedindo atenção à formulação da pergunta do nobre parlamentar dando assim procedimento à investigação: “A Vossa Excelência recebeu dinheiro do mensalão ?”. (Aqui vale uma interpretação do pensamento parlamentar: O termo V.Exa. denota pessoa importante, indo ao congresso, é de expressão pública, conclui-se é um dos nossos.). Neste ínterim é difícil conceber uma outra resposta para tal pergunta, mas estupefato ficaria se a resposta fosse: “Claro que recebi e continuo a receber e também peço a inclusão de minha sogra no prolatado mensalão”.

Concluo o texto com um questionário, com requinte de extremismo, para preenchimento de uma vaga na minha empresa e inicio com a pergunta: “Você é responsável ?” e finalizo com a “Você foi honesto ao responder este questionário ?” ... Pensemos no assunto.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Direito um curso em vão ?

A vontade de justiça impera constantemente em nossa injusta sociedade. Temos uma volúpia a clamar por justiça cada vez que estamos pausados no prato denegrido da balança.


É triste ver, que a cada semestre, milhares de alunos bacharéis em direito recém-formados sedentos pelo nirvana jurídico passem vários anos a financiar um canudo universitário atingirem a vergonhosa marca de mais 80% de reprovação no exame de ordem da OAB que dessa forma chancelam que o estudo já feito não é sério.


Estes amantes da igualdade para chegarem ao ápice da carreira estudam em média uma década somente sobre termos de igualdade e isonomia para depois jogaram tudo fora, legislando em causa própria para se deliciarem nos vícios privados em detrimento da já minguada distribuição de benefícios públicos cunhando a ferro e fogo o ditado "Faça o que digo, não faça o que faço".


Os benefícios do cargo são amiúde jogados na imprensa. Férias dobradas, turnos espaçados na maioria vespertinos, recessos mil fazendo crescer o abismo de regalias perante o proletariado. Estas vontades que mais crescem parecem mostrar que o estudo da justiça faz aumentar a miopia do abismo das classes sociais e coloca por terra, o art 5. da Constituição que reza que todos são iguais perante a lei. Não é de estranhar que a sindérese, faculdade no uso do bom senso, passa longe do berço esplêndido, só que o berço esplêndido é feito de plástico barato.


Não quero dizer que tudo está perdido, já dizia a parábola que "uma maçã podre estraga todo o resto" melhor parafraseando, invertendo a parábola, é dizer que todo o resto apodrecido não poderá estragar a última boa maçã. Faço aqui um esforço de esperança para o curso que demonstre logo para que veio, que consiga ser pragmático no estudo que perpetua a justiça, que enalteça as demais necessidade de igualdade, que deixe de vangloriar o financeiro nirvana jurídico e que finalmente demonstre que não é um curso em vão. Fica a parecer que quanto mais se estuda sobre igualdade menos ela deve ser praticada.